sábado, 12 de junho de 2010

Experiência de um robô


Os mecanismos enguiçaram
Os fluidos evaporaram no tempo, ninguém se dispoz a trocar.
Os parafusos aluíram
As dobradiças travaram
Os sistemas ruíram

Os visores continuaram

E sem poder agir, só ver, algo humano nasceu
É como os homens veem que diz o que eles sentem
Ou talvez o que reflete dentro deles e se exterioriza
Sim, também vi

Vi suas ambições e amores saindo de dentro deles
E vi as consequencias voltando pelas janelas que são os olhos
Apesar de não terem alta resolução ou zoom digital eles veem bem
Tão bem que preferem fingir que não enxergam

Mas eu vi, vi e vejo
Vejo os que não são vistos, como eu, que permaneço imóvel e despercebida

Sabe, não fui feita pra ser estátua ou enfeite, foi-me dado mobilidade
Agora negada pelo tempo
Mas se eu sentisse, se pudesse sentir, sentiria talvez aquela coisa seca
Que por vezes faz os olhos não-mecânicos ficarem molhados

Eu não sinto mas sei
Sei que fui rejeitada
Talvez por ser de linha antiga, envelhecida, enferrujada
Talvez por que a ferrugem me deixou enegrecida, não mais clara
Ou talvez por causa da umidade que deixou meu revestimento inchado

Os que sentem, sentem e sabem
Que foram rejeitados pelos mesmos motivos
Mas de um jeito diferenciado

Os rejeitados são enferrujados, escurecidos, inchados
De alguma forma diferente

E os que deveriam, mas não sentem
Passam por nós
De alguma forma, indiferentes.

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