quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Por Dilly e Manuh

E lá estava ele, sentado na escadaria sempre no mesmo degrau. Seus olhos fitavam o nada, ele admirava cada pequeno detalhe a sua volta. Seu semblante era despreocupado, sutilmente sarcástico. As pessoas que ali passavam eram como sombras, sempre muito apressadas. Mas algo naquele cenário o chamou a atenção, dentre toda aquela multidão, uma pequena criaturinha de longos cabelos dourados e pele branca atravessava as pessoas na direção contraria, aparentando não se importar com a agitação ao seu redor. Aquilo lhe despertara interesse, motivando-o a segui-la. Levantou por impulso, saiu tropeçando e esbarrando nas pessoas. Cego por sua curiosidade, ele não percebe onde a menina o levara, acaba então caindo dentro de uma enorme fenda no chão, sua queda parece infinita e quando ele menos espera se esborracha no chão. Olhou ao redor meio desconfiado, mas sua curiosidade o forçava a continuar, afinal ele havia ido longe demais para voltar. Caminhando receoso, ele adentrava mais aquele mundo surreal, até que se deparou com duas portas – que ao certo não estavam ali- Em uma delas havia escrito *PASSADO, e já na outra FUTURO. Sua reação foi meio de indagação, afinal o que havia atrás daquelas portas, sua curiosidade mais uma vez o incentivava a desvendá-las. Antes mesmo que ele pudesse escolher, uma das portas se abriu, e junto com ela uma enorme luz branca. Aquilo o cegara, quando finalmente ode enxergar direito, ele já estava dentro da porta, olhou para trás com certo medo e viu que estava dentro da porta Passado, ficou espantado, seu coração palpitava com extrema brutalidade. Até que viu a menina mais uma vez, tentou chamá-la, mais não houve resposta. Virando-lhe as costas, ela o convidara a segui-la.
A menina o fez viajar por sua propria vida e ele se surpreendeu com a quantidade de coisas que pode ter deixado passar sem perceber. Viu a primeira menina que amou, e como ela se foi efemeramente. Viu também seus pais e o amor que o dedicavam, seus amigos que tentavam fazê-lo rir mais uma vez. E ele sentiu falta. Ele continuaria ali, vivendo tudo.
Até que ele acabou tropeçando, viu que tinha voltado ao mesmo lugar das portas, agora já sabia o que lhe esperava e logo a mesma luz branca o puxou para dentro da segunda porta, depois de tudo o que ele vira estava com medo do que lhe aguardava no FUTURO
Viu a menina novamente, só que agora já não mais como antes.
A menina de cabelos dourados tinha agora um tom mais dramático, a face envelhecida, o peso do tempo sobre os ombros. Ela o mostrou seu futuro seco e vazio como a casca de uma noz. Já não via mais os amigos que gostava, as risadas que o aqueciam, seus pais não estavam mais ali. Ele estava só, sentado no mesmo degrau, vendo as pessoas passarem, o tempo passar, a vida escorria-lhe entre os dedos e ele sentia a tristeza de nunca ter quisto agarrá-la.
Angustiado com tudo aquilo que viu, tenta de algum modo voltar a sua realidade. Ele corre de volta a porta, para sua decepção ela está trancada, vendo-se totalmente perdido ele se desespera. Até que a porta finalmente se abre, levando-o então a sua realidade. Com o coração quase explodindo de seu peito, ele agradece por estar ali, por ter voltado. Sem perceber que ele já não observara as mesmas pessoas.
Esbaforido ele se vê ainda sentado na escada, vindo de um devaneio. Pensa que dormiu, ou talvez tenha finalmente acordado de toda uma vida de languidez e perdas. Atordoado ele se levanta, agarra a vida que lhe escava entre os dedos e parte atrás da menina de cabelos dourados que acabou de passar por ele.

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